terça-feira, dezembro 19, 2006

Mancebo.


Não há nada para se escrever. Talvez fosse muito forte dizer tal coisa, e por vezes um tanto determinista, creio eu que talvez não seja possível não haver nada para se escrever, pois mesmo não havendo aqui estou nesta sopa de letras. Seria até egocêntrico relevar, jogar a um patamar um eu que está presente ao seu bel prazer, ao seu modo de ser e mesmo agir, percebo isto ao primeiro olhar que ponho por esta janela onde vejo carros, bicicletas, pedestres circulando, indo em alguma direção que mantém este possível nada se preencher em rotinas, em um gigantesco cotidiano, portanto, não seria demais dizer que mesmo ao escrever algo, tenho como referente um plano de congêneres que me faz ser aquilo que o observa, de certa forma ainda traduzo dada forma a um semblante conectivo de minha semelhança.

Certa vez, após a consumação de minhas duas décadas, uma moça virou para mim e disse; "Ainda é um menino", como se pudesse antever em uma definição extensiva de graus a capacidade de se dotar a existência de um juizo universal. Perguntei-me se estaria eu a ser tão menor ou tão maior? Seria eu tão menor ou tão maior a algo? Ou a alguém? Impliquei com certa dissimulação ao veredicto dado por certa juíza da experiência a priori, afinal, me relevaria a um posto de submissão a ensejo do poder de certas definições. Mas, concomitante acharia-me ali tão menor e tão maior quanto a qualquer referente, assim, sentia-me também um tanto criança e um tanto adulto, mesmo ainda não sabendo definir nenhum destes generos, como também era proeminente a exaltação leviana da puberdade que todos ali naquele momento se encontravam ao se doar a uma 'paixão' exasperada. Este tendão range ao movimento deixando-se pulsar no chão em que circunscreve, dificil será transgredir este limite dado a si.

Sinto uma pontada de inveja destes aventurosos homens que circulam do lado de fora deste muro. Estes anseiam, desejam, sofrem, alegram-se ao caminho que perscruta, como se não houvesse outro caminho possivel de se migrar seus pensamentos. Será que este místico caminho que o tomará é um caminho em que estes projetam-se no futuro? Não sei, não haveria como prever o futuro destes que se jogam na vida, só vejo o passado deles, e apenas um instante, também como sofrem ao se tentar projetar-se no futuro que não este que irá-agora-passar.

Passou.

Disvirtuo-me a atenção para prover a ausência de árvores nesta rua. Faz muito calor.

Talvez devesse escrever por uma certa paixão efervescente de um mancebo tempo, talvez seja algo que possibilite uma descrição que aspire às imaculadas afecções que circulam o pensar, pairando na universalidade de suas comoções, naquele despertar quase que ingênuo das possibilidades, de forma que este acontecimento dar-se-á para uma memória ausente deste presente. Dar-se-á? Este futuro de um sujeito indeterminado coube em uma semântica uma cadeia de ações que constituem a sua idealização em sua possibilidade de ser este desejo. Claramente, resumo a um ato bem característico - ao fixar seu olhar amedrontado implorando por aquele afago que tanto custava recuou a cabeça ao chão afim de enganar sua vontade e esconder a pulsão que torcia seu ventre, as aceleradas batidas de seu coração, aquele frio em tua barriga era tão novo que sentia que talvez pusesse o seu estomago a fora criando uma situação tão embaraçosa que não suportaria tal vergonha. Pensou consigo o porquê de tal coisa, pensou o porque de tuas pernas tremerem se sua coragem a havia levado até aquele instante, até aquele ponto em que se encontrava, conjurou sua decisão jogando-se em tamanha tortura, em um sombrio desgosto tornando sua façanha em uma simples tragédia de seus instintos, uma tragédia aos seus ancestrais que superaram as adversidades da natureza, por onde abrigaram tanta melanina capaz de suportar o calor e ainda se pusessem aos congêneres dionisíacos da reprodução.

O mundo mudou, pensou. Tão forte foi este pensamento que rompeu-lhe o hímen. Sangrou muito.

A escrita poderia tomar tamanhas proporções ao se destinar descrições eloqüentes de sentimentos que afrontam os homens. Mas, caberia tais sentimentos na natureza? Não saberia responder ao certo a natureza destes. Descreveria tal como aves de rapina que de tão grandes planam sobre a superfície criando uma enorme sombra, sobrevoam a natureza em tocaia, para fixar seu desejo de sobreviver.