terça-feira, fevereiro 13, 2007

O barco.

Há algo aqui que reduz uma compilação de versos (talvez seja a imprudência quanto ao passado), uma compilação mutante de espasmos, de jogos rítmicos que sobrevoem esta tela. De certo que não. Não reduziria a versificação a tal juízo, conquanto, atesto a incapacidade de demonstração de afetos que não seduzem além de um furto ao pastel de cabelos, ou ao uso da peia como membro permanente do clube da esquina, comumente chamado de planeta vermelho, um velho navio encalhado à frente do mar.

Besteiras a parte, creio que esta não-versificação deduz algo que impossibilita um apego tenaz, as proezas de um ignóbil homem das meias-palavras, aquelas que se usam quando calça um sapato. Sapato este que doi os pés, aos calos e bolhas de sangue, em um andar apressado, explicitamente, um andar caricato. A dedução seria por demais infantil se não adentrasse ao estilo cômico e fugaz da percepção, como de um pocotó (sabiamente traduzido por abidoral) a espreita de um lânguido busto para condecorar. E por alguma razão, impulsiona um gesto grotesco que alcova metro por metro de tua língua.

Mas, a incapacidade para a língua está atenta, minha língua está atenta ao reboliçar, a salivar um líquido capaz de digerir certos preâmbulos. Assim, 'a autoria de uma novidade qualquer' pudesse dizer que os putos do passado já o fizeram, para desnutrir ainda mais a capacidade do divertimento da escritura e saborear as cantigas de Camões. Aí de mim desses novos poetas.

Congêneres de lado, aportou um ciático revés à estética frotteuristica, ao pensar versificado dedico meu infortúnio com um apontamento:

Não me faça declamar;
poetas de palavras estranhas.


Os Argonautas

O barco, meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração, o porto, não

Navegar é preciso, viver não é preciso

O barco, noite no céu tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco, da madrugada
O porto, nada

Navegar é preciso, viver não é preciso

O barco, o automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto silêncio

Navegar é preciso, viver não é preciso