sexta-feira, agosto 25, 2006

A BUSCA DA FELICIDADE

"Onde cheira a merda
cheira a ser.
O homem podia muito bem não cagar,
não abrir a bolsa anal
mas preferiu cagar
assim como preferiu viver
em vez de aceitar viver morto. Pois para não fazer cocô
teria que consentir em
não ser,
mas ele não foi capaz de se decidir a perder o ser,
ou seja, a morrer vivo. Existe no ser
algo particularmente tentador para o homem
algo quem vem a ser justamente o cocô."

Este trecho foi retirado do texto Para acabar com o Julgamento de Deus, de Antonin Artaud, para exemplificar a proposta que este blog se propõe. De fato, falar da escrotice humana criará para os leitores do blog (se houver) uma repudia que deriva de uma questão moral que exerce o pensar, ações a reprimirem a natureza humana. Uma moral que exerce uma ética capaz de julgar a capacidade humana criando padrões de ser, impondo uma visão universal de verdades, de mitos, crenças...

O ser, o homem, o individuo, o cidadão, ou qualquer outro tipo de conceito especifico está a mercê de um cagar que explicita Artaud, está a mercê de uma força que lhe impõe a necessidade de sua natureza. Desta maneira, o ser está ali em duelo consigo mesmo pela sua necessidade natural de sua vontade de se jogar no mundo, de se jogar em suas vontades e verdades contra mundo, de jogar a merda que tem dentro de si. Para Artaud, o ser é esta angústia que está na ação de jogar, de abrir a sua bolsa anal e cagar, esta angustia que amedronta o homem em sua escolha de ser, assim, impõe a si a necessidade de a priori conceituar, dar valor simbólico a suas ações esquecendo de que ele é um ser no mundo. Com efeito, é impossível determinar categoricamente a ação do ser no mundo; ele esta aí, jogado no mundo, em um devir inexplicável para Artaud, principalmente, pela sua rejeição a tudo que centralize, racionalize o homem perdendo sua capacidade criar através do impulso original.

A autenticidade que supostamente através da alegoria que propõe ao cocô é o foco da natureza humana, este incompulsivo ato que está dentro do ser é a fonte para constituir o espanto que existe na relação do mundo. Ou seja, Artaud propõe que o homem pode ser, pode não-ser, pode ser e não-ser compondo, assim, um sujeito que esta a busca da conceitualização de seu próprio mundo, de uma loucura de se jogar intensamente no mundo, que pouco importa onde metafisicamente se encaixa a sua ação, mas que delimite para si o espanto original da vida de dar o pulo no escuro.

Este argumento interpretado a partir da leitura de Antonin Artaud é fundamental para se entender a loucura que se dará neste blog, no se jogar, no dar o pulo no escuro onde a vontade supera a angustia de ser, com efeito, tornando assim o homem em espírito livre para transitar a sua consciência em qualquer saber, conhecer. Ora, de maneira que, destituindo o pensamento moderno vigente até hoje criado a partir do mito de um sistema que transpõe o Deus ao valor simbólico empregado a associação, socialização de redes que se mantém através do capital o ser preso, fisgado a devires impostos a uma ética de sobrevivência, de uma moral que o impossibilita do pensar, do extasiar, de um tecnicismo incapaz de criar algo fora da realidade já determinada. Portanto este blog esta fora de uma noção de percepção de pudor, do medo de se jogar buscando a loucura de cada ser que escrever, de cagar a merda que há dentro de si.

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