quarta-feira, maio 09, 2007

Seis noções leigas para começar a entender literatura ocidental

* Já faz um bom tempo que não se pega mais nêgas com poesia...

- Você já assistiu a "Sociedade dos Poetas Mortos"? Abstraia;

- Nunca confunda Best Sellers com Clássicos (de qualquer época);

- Desconfie do que diz seu professor de literatura do Ensino Médio;

- Críticas acerca de um livro que você não leu, não têm valor; conquanto tragam certo conhecimento;

- Linguagem poética: linguagem centrada na mensagem (não no emissor, no receptor, ou no referente, ou metalinguagem). Linguagem, pois, de criação/recriação;

- Observar, num poema, como o autor trabalha com melopéia, fanopéia e logopéia. Isso é poesia. Que não é divã psicanalítico - já dizia Mário Faustino.

9 comentários:

Anônimo disse...

Hum... Escreva mais sobre a melopéia, fonopéia e o logopéia.

Claro que, pela noção linguistica já nos vem a mente certa significação. Mas, de que forma o logos, o pensar de um conceito se aplica em um sistema poetico? Ou seria o inverso; o pensar poetico como propriamente um sistema/axioma de pensar?

Bacondê Zungu disse...

Resumidamente, mesmo porque eu ainda estou por aprofundar meus estudos nesse assunto (e por isso "noções leigas", no título):

Melopéia: a sonoridade num poema (como nos poemas Homéricos); Fanopéia: a suscitação de imagens visuais (como nos ideogramas chineses); Logopéia: o jogo de idéias e abstrações, na construção de um sentido.

Mas existem ainda outros conceitos, como o de unidade do poema, de cada estrofe e de cada verso, como a de linguagem condensada, de máxima expressão.

De certa forma, à primeira vista, isso é uma maneira de conceituar a poesia, de definir "a priori" aquilo que define a expressividade de um poema. Mas é também a tentativa de unificar o que é essencial naquilo que se considera "obra-prima" da criação literária humana - e parte dedutivamente do que já foi escrito. Acrescento ainda que talvez seja a tentativa de redefinição de poesia pós-modernista, que se deu com a contestação de velhos paradigmas.

Todavia não consigo pensar em poesia como um sistema ou axioma. "Criação" é uma palavra de sentido vago. O que é criação artística é culturamente específico de uma sociedade - e justifiquei isso ao escrever no título do post: "literatura 'ocidental'". Mas também é específico das diferentes formas de produção artística, condicionadas pelos diversos meios comunicativos.

Por fim, isso não impede a tentativa de uma definição universal de Arte - como também não exclui a concepção cética de sua indefinibilidade.

(confuso, né? Mas duvido que haja uma explicação definitiva...)

tresvarios escrotos disse...

Creio que a criação não seja algo de indefinido.

A própia argumentação de Deleuze trará outros moldes ao pensar sobre o impulso do artista. Trará a tona algo que se havia perdido, ou escondido nessa suposta diferença entre aquilo que é definido por uma ciência prática, positiva, ou teleologica para os homens e a mistica que recai sobre os artistas.

De maneira que, é na própria duração da criação da arte que habita seu logos. Para maior esclarecimento; em imagem-movimento e imagem-tempo ele aborda o cinema como arte, e desta maneira, analisa esta arte como pensamento, onde se opera cortes/arranjos.

Sobre a estrutura poética,reduzo meus comentários a minha ignorância, desta forma, não saberia responder ao limites tecnicos da mesma. Para mim (afirmação passivel de mudança)a poesia, os poemas não tem mais espaço atual, a não ser na música.

Bacondê Zungu disse...

Uma pergunta:

O que é essa "duração da criação da arte"? É quanto tempo a(ou uma) arte permanece enquanto arte ao longo do tempo, mantendo sua qualidade criativa? É quanto tempo se leva para criar a arte? Esclareça um pouco mais.

...

No meu discurso não busquei a origem da criação ou do impulso criativo. O que certamente não é um assunto sem sentido. Eu também precisaria ler Deleuse para entender ao que vc se refere.

Vc fala que os poemas não tem mais espaço atual. Concordo. Letra de música é poema, sim, mas não o é no mesmo sentido dos "poemas silenciosos", ou seja, para serem recitados ou lidos mentalmente. Na verdade, poema e música se encontram, conquanto sejam coisas distintas, tenham certa autonomia.

Acho que não é possível negar que, embora a impressão de livros seja bem maior que outrora, as pessoas tendem a procurar livros de linguagem acessível e com objetivos claros. Se o poema é trabalho poético com a língua, com a expressividade dessa língua em diferentes aspectos, e portanto é trabalho de finalidade diversa e pouco prática (à vida prática: profissional ou afetivo-emocional), pode-se supor que realmente seja arte morta. Por outro lado, os filmes experimentais ou também filmes que fujam a um certo rótulo "Blockbuster" acabam por sobreviver fustigadamente, desvalorados pelo mercado cinematográfico. Admito que fugi da sua análise, malgrado como falha de não compreender os percalços deleusianos.

Essa conversa seria deveras proveitosa - "ou não", diria Caetano - num "Boteco Filosófico". Não pejorativamente, claro. A idéia de Café me soa demasiado parisiense.

Ps. Se vc me respondesse à pergunta, já me sentiria satisfeito.

tresvarios escrotos disse...

Citar Deleuze é no mais enfadonho devido a sua fase atual acadêmica, ou seja, sua modinha.

Mas, eu me referi a algo que não só Deleuze irá discorrer sobre este assunto, mas como diversos outros autores que irão propor algo que se diferencie de algo teleológico, de uma ciência de causas finais, ou de finalidades práticas.

Em relação à pergunta; o que mistificaria a arte a um impulso criativo de gênios que tem mentes brilhantes, obscuras, icompreensiveis, ou diversos outros adjetivos que impõe uma certa indefinição? Ora, não afirmei o fato de o poema ter sua visão não-prática quanto a um livro cientifico, ou um livro que aborde uma literatura fácil, e por vezes, estúpida. Mas quanto ao espaço criativo que pode decorrer do poema, o espaço de pensar. Este espaço foi suprimido - não só pelas vulgares literaturas, ou quando não pelos vulgares autores de poemas, e certamente quanto a produção tecnica - pelo seu atraso quanto às novas formas de se relacionar.

Coloco a palavra relacionar aqui neste texto, pois remete a filosofia de Deleuze, em imagem-movimento ele falará que "o movimento é a relação", o pensar que envolve a percepção sensorial e motora é um movimento, uma relação em que o pensamento se opera em cortes, em um "fluxo intensivo qualitativo".

Neste contexto, apesar de que ainda não adentre na questão do logos da criação do poema, a criação é esta relação, este movimento, uma duração que nela mesma se opera diversos estados continuos, que habita sua multiplicidade. Interessante que, diferente de Deleuze, o Derrida opera a diferença, e opera sobre o texto, no intuito de buscar aquilo que se afirma que se nega, ou seja, tanto seu pensar quanto rastros de outros pensamentos. O Deleuze fez isso ao introduzir estudos sobre Kant, Leibnitz que são filosofias da metafisica, e que difere do seu 'empirismo trascendental' (termo usado pelo próprio Deleuze).

Resumindo uma resposta, sendo que o texto, ou o poema como um modo de registro do pensamento, não caberia a ele criar espaços? Caso seja suprimido por outros espaços, só me vem a mente uma fraqueza quanto a sua 'relação', ou movimento na atualidade.

Bacondê Zungu disse...

mmm... certo. Sobre essa última afimação (da fraqueza da "relação" do poema) você realmente pode estar certo. Mas pense em quantos filmes 'não' poderiam ser análogos aos diversos gêneros literários - dificilmente seriam encontrados. Indo um pouco mais fundo, a diversidade da produção literária (o modernismo e pós) surgiu das inovações criativas do cinema, ou foi o contrário? A questão é quem abre espaço para quem.

O vídeo e o cinema simplesmente adaptaram o que já viha sendo feito e o que é feito à sua própria linguagem. Veja, é só um problema de linguagem: entre a áudio-visual e a textual. Uma que se faz pela exposição sensorial direta e outra pela via indireta, pois depende da capacidade de abstração e da experiência vivida. O vídeo é mais sensitivo que racional, e seu invés é o texto ou fala. Não vou hierarquizar um ou outro. Deluze deve apreciar o cinema pela sua forma de mimetizar o pensamento ou consciência do presente (ou da duração do presente); eu aprecio a literatura como forma da expressão diversa da palavra, da idéia, do signo - ou como a "brincadeira" com o intelecto; não significando isso a negação da intuição, mas muitas vezes a sua instigação.

Argumento também que a literatura nunca foi, em nunhum momento histórico, o que se pode chamar de "popular", ou difundida, absoluta ou relativamente, entre boa parte da população.

Para entender esses conceitos eu li algumas explicações e fragmentos de Bergson, que explora o significado do tempo consciente presente e os conceitos de sensibilidade/ação/movimento (que eu intuí como o de "relação") e de intuição "contraposta" ao intelecto.

Mas me ficou uma outra pergunta: que espaços abriu o cinema à atualidade? Parece banal, mas talvez só siginifique que eu não tenha captado o sentido que vc quis demonstrar.

Bacondê Zungu disse...

Resumindo:

Minha opinião é a de que o vídeo e o cinema são apenas outra forma expressão, como já falei, provenientes da inovação de meios técnicos. É uma linguagem mais empática, já que trabalha com a imitação do momento consciente presente. Pode aproximar-se da existência real, mas por si só é expressamente virtual. Isso lhe dá status de inovação, mas não de criação. A criação, intuitivo-intelectual, é fenômeno que se expressa, na comunicação, em diferentes formas de linguagem. O status de uma ou de outra linguagem, já que dependente da cultura em que se manifesta, é, portanto, histórico e contingente.

tresvarios escrotos disse...

Bom... Não creio ter feito comparação entre o cinema e a literatura, e nem mesmo certa hierarquização.

É preciso certamente reconhecer que certas tendências advindas da própria literatura vai se estender ao cinema, como, por exemplo; o impressionismo, expressionismo, o realismo, etc. O pensamento escrito será também providencial ao cinema quanto a sua temática abordada, o cinema russo lerá Marx, o cinema surrealista lerá Freud, etc.

Ora, ao falar em espaço de pensar remeto a estas interligações, a essas relações. Em todo caso, o poema não haveria de desfrutar também de outros pensamentos? Fernando Pessoa e seus multiplos heteronimos seriam apenas criações de sua genialidade? Augusto dos Anjos e sua escatologia seria advinda de sua mente? Desta forma, há uma relação continua, uma movimentação do pensar, assim, é dele que falo, não é do poema enquanto uma arte, não é do cinema enquanto arte, mas o poema e o cinema enquanto um complexo que se refere ao próprio pensar, ou seja, palavra-pensamento, imagem-pensamento - que são diferentes em categoria artistica, mas remetem ao mesmo campo de imagem e audio também.

Olhe, a palavra e a imagem são problemas 'antigos e novos', seu jogo significante nos remete a diversos problemas. De forma que remete a campos de percepções diferentes, só que parecidos.

Estranho?

A palavra vista é uma imagem, e como também ela remete, Saussure indentifica isto, a um som interno. Ou seja, já se demonstra um problema de ordem maior, a palavra como uma forma audio-visual.

A palavra opera um jogo significante, e é isto onde Peirce cria sua triade do signo iconico, indicial e simbolico, cria esta triade como forma de categorizar este universo linguistico que se refere a palavra como imagem. Desta maneira ela, a palavra, recorre a um campo complicado, de forma que seria redudate dizer algo como a imaginação da imagem. Ora, ela é significante/significado que tem uma mensagem codificada a um determinado referente.

Obviamente, deixo em aberto as criticas tanto a uma semiologia de Saussure que opera um fonologismo, ou como uma semiotica de peirce através de um psicologismo do icone, indice e simbolo, como também a evidencia da relação entre palavra-coisa, ou imagem-coisa - o seu referente.

Já o cinema, citando Deleuze, ele opera sobre cortes na imagem, onde o pensamento flui conectando-se.

Deleuze é um malandro. Ele mistura o real e virtual quebrando a dualidade entre espirito/corpo, conteudo/forma, imagem/coisa. São tudo simulacros. Ou seja, seria dizer que é na imagem mesma, e que ela é uma experiencia no real.

O que isto tem haver com o cinema e com esta discussão?

Primeiramente é na experiencia da percepção de que opera o pensamento(no cinema e tanto ao poema), com efeito, espectador e obra se confudem, sendo o mesmo. Segundamente, a critica que abordei inicialmente foi sobre o ostracismo do poema quanto as suas estruturas históricas, e seu ostracismo em criar novas formas para compreender o que é a imagem, o som e o pensar do poema. E que justamente foi o que eu pedi pra ser explanado.

tresvarios escrotos disse...

É estranho pois parece que falo uma outra lingua, ou um tema diferente do seu. Mas eu abordei todos os temas propostos, e creio eu que não será pelo vies da afirmação e negação que terá uma forma atuante sobre o assunto abordado.

Mas o tema sempre é o mesmo, o tema é as noções da literatura ocidental. Em sua relação com a palavra como imagem, som e pensar, e talvez pelo viés de uma citação de Deleuze, adentrou a uma comparação ao cinema, que tão logo foi composta em definição em que existe o meio técnico (as projeções), forma artistica, e linguagem aplicada.

Desta forma, há uma relação parentesca entre o que se pode pensar de linguagem e sua relação com o poema e o cinema. Sem falar também em sua comparação a sua forma de ser registro, o meio tecnico, o livro e o filme como pensamento. E, por final, os acontecimentos historicos e suas relações entre a literatura e o cinema.

Não sei se fui claro sobre a ideia de espaço de pensar. Mas o espaço é um termo complicado, pois dizer tal coisa adentra em um territorio existente, ou seja, em uma delimitação de pensar que existe. Dizer uma coisa como, criar novos espaços de pensar, espaços do poema referem-se a uma luta onde haverá que se adentrar não só nas relações historicas daquilo que se entende por poema, mas como suas fissuras para criar, tornar a diferença visivel.