quinta-feira, novembro 16, 2006

Minha unha, meu mundo.

Apesar de não ser adepto a este tipo de escrita, surgiu-me como necessário falar da minha unha encravada. Não porque exista uma necessidade de escrever sobre minha unha encravada, mas para colocar em questão como é possível uma única unha encravar e cair umas 3 vezes em menos de 5 meses. Sim, aconteceu, e é deprimente.

Não me sinto orgulhoso para tanto, me sinto angustiado com a possível iminência em perder uma outra unha, em perder a unhazinha do dedo mindinho do pé. Parece-me uma necrose que se alastra ao dedo, talvez surja uma lepra, quem sabe? Se bem que, seria agora uma afirmação da minha condição leprosa conotativa. Leprosa? Pois bem, ultimamente tenho como sensação a afirmação categórica da máxima do Cacique Serigy, ela está enraizada nesta terra sutilmente corroendo a todos que pisam nela, coloca-se o pé nela, e possivelmente, como eu, perde-se a unha. De certa forma então, a unha é o prelúdio para a distinção deste acontecimento mitológico, é como uma gangrena que se alastra em uma ferida não cicratizada, putrefazia em uma comunhão de merda.

Cacique Serigy é a única identidade que se conduz a esta Terra de Ninguém, uma terra que ficará marcada pelo sangue e a maldição berrada por esse índio mistico - "Nesta terra nada se plantará". Bom, de certa maneira esta terra será a terra de forasteiros, que por sinal não deixa de ser uma verdade, ela compreende em uma fusão caótica dos anseios de todos os outros Estados que adentraram na fantasia de conquistar novos espaços, na descoberta de novos mundos. O genocídio praticado aqui nesta terra explicita muito bem porque esta terra é de forasteiros, no passado que há nela é feito de mortes, a sua memória foi apagada para compilar em uma nova historia feita pelos grandes homens aventureiros, ou como gosto de denominar de; seres psicopatas. Não gosto das categorizações da psicologia, mas este termo veio bem a calhar aos homens bem aventurados que aqui habitam.

O terror começa pelo chão, coincide com a perda da unha e se alastrando pelos demais órgãos do corpo, um efeito dominó onde as peças se colidem brigando por um espaço que inexiste. Mas engraçado que, sobretudo, há uma resistência permanente a lepra que se inicia no pé, na unha - por alguma razão ela se recria substituindo a unha que caiu, cobrindo a carne que está a mostra pronta para iniciar uma gangrena, uma infecção com o contato com a terra, inicia-se um novo ciclo de rupturas e resistências a morte já anunciada.

Creio que eu, que está adaptação não pode ser levada a uma espécie de descumprimento com o mito proclamado, na verdade é uma sádica adaptação para surrar as expectativas ilubridiadas, esperadas na formação da nova unha. Por isso a porra da minha angustia com esta unha que cresce e cai, cresce e cai, sucessivamente em tão pouco tempo. Talvez, esta seja uma forma sádica pra me lembrar que é possível eu entrar em contato, entre minha carne e a terra, com a memoria esquecida, me afectando, lembrando que não estou desguarnecido da minha tradição.

2 comentários:

Anônimo disse...

procure uma pedicure de qualidade albino ou um medium espirita pra exorcisar o Serigy que escoa em voce infeliz!

Anônimo disse...

texto muito tocável em relação ao incorporamento de uma alma intima ao povo sergipano!!
viva cacique Serigy